Amigos e Devotos Falam da Venerável Benigna
Irmã Judith Mendonça
Data: 16/04/2023
Edição: 88
Belo Horizonte, 22 de julho de 2003.
Irmã Judith Mendonça, consagrada a Deus pela Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade.
Candidatei-me ao apostolado na Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade e não fui aceita por estar tuberculosa. Chegando ao convento, eu e outra companheira fomos levadas ao médico para adquirimos o atestado de saúde. A Irmã Felicidade é testemunha deste caso, fomos ao Dr. Paulo Menicucci. A outra moça que fora comigo recebeu seu atestado. Quanto a mim, o médico me escutava no peito e nas costas, levou-me ao RX e eu só escutava ele dizer assim: “Tá vendo, tá vendo, não posso, para esta eu não posso fornecer o atestado”. Ele disse para a Irmã que me tirasse urgente do Colégio se não o Colégio fecharia por falta de alunos, quando os pais soubessem da minha doença – eu estava tuberculosa.
A Irmã disse que me mandaria embora naquele mesmo dia (em que fui ao médico). Comunicou o fato à Madre e o Colégio entrou em reboliço, destruindo tudo o que eu usava. Deixou apenas uma caneca para a viagem. Dizia: “anda depressa que o trem já está saindo, já está escurecendo”. Dizia: “a única maneira de tirá-la rápido é mandar entregá-la à Irmã Benigna. Nesta ocasião, Superiora na Santa Casa de Itaúna. Mandaram avisar meus pais para buscar-me, veio meu irmão e minha irmã.
Foi um rebuliço no Convento arrumando mala, levando colchão para fora... Escreveram à Irmã Benigna que ficasse comigo até minha família mandar buscar-me. A Irmã Benigna arrumou um cantinho para mim, ninguém podia saber que eu estava lá no Hospital, eu era tuberculosa.
A Irmã Benigna leu a carta que as irmãs enviaram e eu contei a ela o que aconteceu comigo no consultório quando fui buscar o atestado. Irmã Benigna me abraçou e disse: “Não há de ser nada, minha filha você vai sarar, você vai ficar aqui, você vai ser uma irmã da Piedade”. Eu fiquei no quartinho, os médicos não podiam saber. Ela é quem me aplicava injeções e me levava comida. Vi muitas vezes uma menininha ser repreendida, porque ia ao meu quarto.
No Convento nada se comentava a meu respeito, era proibido. Quando meu irmão procurou por mim, disseram a ele que há muito tempo esta moça, que ficara tuberculosa, saíra do Colégio. Que devia ter morrido.
Meu irmão me encontrou e queria me deixar na casa da Gelcira Caldeira, mas disseram a ele que ela poderia não gostar, pois tinha crianças. Deixaram-me na Pensão dos Tuberculosos, na Rua Caetés. Gelcira não gostou de terem me deixado na Pensão. A casa dela é na Rua Bernardo Guimarães. Meu irmão passou uma mensagem para a mamãe assim: “não encontramos Filhinha” (meu apelido), mamãe achou que eu havia morrido e o padre Egídio celebrou missa em minha intensão.
Minha cunhada levou-me ao Dr. José Lima, Dr. Torquato Filho, disseram assim: “Há uma dúvida, mas não certeza, que ela tem um problema no pulmão. A gente percebe, mas não é tuberculose, ela vai fazer os exames que precisam”. Fiquei na pensão e fui fazendo os exames e quando foi no último RX eles disseram: “assim como temos pintas no corpo, ela as tem no pulmão. Não é tuberculose é uma coisa congênita. Ela está com uma febrezinha e vamos procurar a causa." Viram que era apendicite e estava com infecção crônica. “Vamos operar o apêndice. Ela vai ver a família e volta para ser operada”.
Quando concluiu os exames, fui ao Hospital mostrá-los à Irmã Benigna, ela abraçou-me e falou: “eu sabia, desde a hora que bati os olhos em você, eu sabia que era engano”. Ela ficou muito feliz e disse: “ela vai para junto da mãe dela para ela ver que a Judith não morreu”.
Fui operada do apêndice e voltei para o Colégio. Elas ficaram com medo de me aceitar e até hoje faço acompanhamento do pulmão com o melhor especialista de Belo Horizonte, o Dr. Milton Gaspar de Moura. Vou mensalmente ao médico e ele diz “ela está boa”. “o pulmão apresenta, às vezes, estrias. Fica sequela.