Madre Teresa Cristina Leite

O afeto nos faz importar as pessoas para dentro do nosso coração.  Desperta a nossa percepção,  desabrocha a sensibilidade,  nos torna advogados de causas indefensáveis. O afeto permite olhar para o coração da outra pessoa e desejar estar perto e fazer-se perto. O afeto nos leva a buscar a cura para um ente querido, a defender um familiar porque o amamos. O afeto vivido por Irmã Benigna Victima de Jesus, permitia-lhe olhar para Deus presente no coração da pessoa e reverenciá-Lo, permitia-lhe sentir junto as aflições e ter compaixão.  

O afeto trás proximidade,  nos leva a viajar léguas para estar ao lado de um amigo, um familiar,  prestar uma última homenagem e justifica ações feitas por amor e cuidado.  O afeto pede licença para a razão e busca a  comunhão e proximidade em circunstâncias adversas. Sim, o afeto dispensa a lógica e cultiva o amor. O afeto realiza a fraternidade e reconstrói laços.

O afeto talvez seja a  grande característica que nos torna humanos e, por isso, quando vemos um gesto de proximidade entre os outros seres da natureza sentimos uma identificação,  porque  nós fomos criados para o afeto, é a nossa natureza. Inevitavelmente estamos destinados a afetar e ser afetados por tudo que nos rodeia. Precisamos dos filtros do discernimento,  coisas boas e ruins podem se aproximar de nós e podem sair de nós para afetar o outro.  E a melhor forma de curar uma experiência 'desafetada' é zelando pelo diálogo, percebendo que a vida é feita de qualidades e limitações,  mas as duas são importantes.  Nossas limitações servem para ponderar nosso ego e abrir o coração para contar com o outro, dando espaço para receber os atos de caridade, assim cultivamos a humildade. Nossas qualidades, habilidades e dons nos permitem ser úteis para as outras pessoas, afinal, todos nós temos a nobre missão de servir. 

É notório que a natureza precisa se livrar daquilo que não serve, ou ela adoece, assim uma pessoa que não se coloca a serviço em nenhuma esfera da vida torna-se um ser estranho, indiferente. A indiferença faz-se antagônica ao afeto, porque não atribui valor, nega a existência e ignora o significado do outro. A Irmã Benigna lutou contra a indiferença de seu tempo, levou caridade àqueles que a sociedade decidiu não enxergar. 

Somos chamados a Servir! Servir não é só fazer, na maioria das vezes, é simplesmente ser. Ser presença, ser luz, ser força,  ser fonte de oração, de esperança e de bondade.  O mundo precisa disso! E esse foi o grande testemunho de fé da nossa Venerável Benigna Victima de Jesus: ser um sinal da presença de Deus no mundo! 

Nossa amada Irmã Benigna, que hoje é reconhecida Canonicamente por Venerável teve uma vida assim... aprendeu a equilibrar a linha tênue do ser e viver para Deus, configurou seus afetos e colocou-se a serviço. Defendeu a  vida, lutou pelos fracos, ajudou os pobres, orientou os ricos, cuidou de cada pessoa com equidade, ou seja, ofereceu a cada uma o que lhe era necessário para ser livre, inteira e as fez perceber o valor do lugar no mundo. Restaurou a dignidade para servir, escutou e fez perceber o valor do diálogo, do ouvir e do falar com o coração aberto e gentil. 

A Venerável  Benigna não proferiu longos discursos sobre essa temática,  ela simplesmente vivenciou essa experiência de ser. Sua personalidade certamente agradou a alguns, desagradou a outros, mas o viver em Cristo submete a essas experiências e é saudável compreender sua jornada humana. Mas, o que realmente nos encanta, é a sua perseverança,  não por teimosia ou por mérito pessoal, mas por graça da parte de Deus. Ela passou pela vida como a nossa vida, no entanto, permitiu que seu coração assimilasse o sonho do coração de Deus. Deixou-se afetar pelas histórias,  pelas angústias,  pelas conquistas,  pelos sonhos, pelas  necessidades das pessoas e tornou-se uma grande intercessora diante de Deus. 

Seus pedidos, suas preces, não eram gestos automáticos proferidos por devoção, eram clamores profundos de dentro do coração! Ela importou essas vidas para a parte mais reservada do seu ser, podemos chamar de amor que penetra as entranhas. Um amor profundo e caridoso, capaz de se transcender e tocar o amor de Deus.  Uma graça para nós, que recebemos de Deus essa grande intercessora em nossos dias. 

Que nosso ano seja especial, que nos preocupemos em importar pessoas para dentro do nosso coração, cultivando os gestos de cuidado, diálogo e bondade especialmente com os que estão mais perto: amigos, vizinhos, membros das nossas comunidades e paróquias, grupos, familiares. O mundo pode ser curado com o afeto! Por mais utópico que pareça, podemos mudar e reconciliar o mundo que está perto de nós. Que a Venerável Benigna Victima de Jesus nos ajude e nos inspire a arriscar passos nessa jornada e, pela bondosa companhia de Nossa Senhora a Mãe da Piedade, nos dê a graça de construir um mundo de ternura e bondade onde estamos inseridos. Jesus tem pressa!