Maria Isabel Adami Carvalho Potenza

Maria Isabel Adami Carvalho Potenza

Sacerdotes de Deus

Data: 16/02/2022

Edição: 81

     Há na Igreja um mistério de excelsa beleza: o sacerdócio. Deus escolheu, de entre os homens, um homem com o qual estabeleceu eterna aliança (chamado por Deus como Adão) conferindo-lhe, para sempre, a dignidade sacerdotal, participação e prolongamento do eterno e imparticipado sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Diz S. Paulo: “Tomado dentre os homens, constituído a favor dos homens, nas coisas que tocam a Deus”. (Hb 5,1)

     O padre é, na sua primitiva majestade espiritual, sacerdote, profeta e rei. Revestido das aparências comuns, ele não traz na face o esplendor que irradiava do rosto de Moisés, porém, ao contrário, segundo a expressão do apóstolo, torna-se “vezes incontáveis, um espetáculo aos homens, como o refugo deste mundo, a escória de todos”. Ninguém é tão altamente elevado como o sacerdote de Deus. Muitos homens, porém, acreditando-se maiores do que ele (ninguém possuidor de tão grandes poderes) julgando-o inferior e incapaz. Vivendo neste paradoxo, de grandezas, que só os olhos da Fé podem vislumbrar, e de pequenez, que o mundo acusa, o sacerdote é aquele mesmo de quem S. Paulo escrevia, falando de si próprio; “desconhecido, ainda que conhecido; como morrendo, mas eis que vivo; como castigado, mas não morto; como triste, mas sempre alegre; como pobre, mas enriquecendo a muitos: como não tendo nada, mas possuindo ‘Tudo’”, (2Cor 6,9-10). Quanto mais os espinhos lhe ferirem a cabeça, em sua vida de renúncias e escondimento, de mais riquezas ela será coroada. “Puseste em sua cabeça uma coroa de pedras preciosas”.

     Sua condição humana, porém, traz-lhe correntes e grilhões pesados, que o fazem pender também para o efêmero e transitório. Devemos ajudá-lo com as nossas orações. Rezemos todos os dias pelo sacerdote, para que, em todo tempo e lugar, na vida e na morte, ele seja autenticamente "o sacerdote de Deus”. Deixemos que se dilua na caridade do perdão o amargo espetáculo do sacerdote que voltou à antiga estrada, retomando os apetrechos do efêmero atraído pelo amor humano ou encantado com os ruídos mundanos, que simbolizam todo encantamento da mais falsa glória.

     O sacerdócio de Cristo é atualizado todos os dias, até o fim dos tempos, através do ministério do sacerdote, que é o instrumento visível do Senhor invisível. Tão perto da santidade infinita, cuja graça jorrou-lhe na alma no instante incomparável e único do mistério sacramental, que o tornou “sacerdote para sempre”, ele é o guia espiritual do povo de Deus. Sua vocação é a Santidade. Não foi em vão que o apóstolo, consciente da responsabilidade de Timóteo, o advertia: “Cuida muito em te apresentares a Deus digno de aprovação, como operário que não tem de que envergonhar-se.” (2Tm 2,15). A realidade sobrenatural do sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo permanece viva em sua Igreja, porque Ele mesmo a sustentará até o fim dos tempos, apesar da fragilidade daqueles que o Senhor gratuitamente escolheu de entre os homens para constituí-los “despenseiros dos mistérios de Deus”.

     Há os tristes e dolorosos espetáculos, mas o Filho de Deus já prevenira: “Ai do mundo por causa dos escândalos. Pois é forçoso que venham escândalos; mas ai daquele homem por quem o escândalo vem”. (Mt. 18,7). São os espetáculos dados pela imensa fragilidade humana, que o sacerdote não despe, nem quando se lhe infunde, pelo Sacramento, o indelével caráter de “sacerdote para sempre”. A Igreja vai carregando sobre os ombros a miséria universal até que um dia possa apresentar-se, ao trono do Cordeiro, como a esposa sem mancha, nem ruga. Passageiros, portanto, os episódios das deserções.

     Outro espetáculo edifica e eleva para o Alto tantos espíritos conturbados. É a presença do sacerdote talhado nas dimensões paulinas, diariamente se entregando ao holocausto, que lhe rasga corpo e alma na generosa doação de tudo que é seu para amar a Deus no difícil ministério da salvação dos homens. E quanto mais se abate, mais cremos que será elevado. Quanto mais sofre, mais glória lhe será dada, pois “os que semeiam em lágrimas, com alegria ceifarão”. Outra é a realidade que flui do Coração de Deus. Bendito espetáculo dá ao mundo o sacerdote que permanece fiel, pregado na Cruz, continuando na integridade de sua vida humilde e casta a Paixão de Nosso Senhor no exercício cotidiano da santificação pessoal. No mundo sem ser do mundo. Separado dos homens para dedicar-se aos homens.

     O sacerdote que se santifica, santifica o mundo. Sustenta ele a tremenda luta contra as forças do mal e o reino das trevas, para chegar à Casa do Pai com a família santificada. Bendito o sacerdote que merece do povo exclamações de respeito, de veneração e afeto. Deus os aumente, porque nenhum bem é mais precioso aos homens, nem espetáculo é mais edificante e belo que este: a autencidade sacerdotal.

 

Artigos escritos por Maria Isabel Adami Carvalho Potenza