Irmá Benigna

Reportagem Especial

Entrevista com Padre Jorge Alves Filho, Pároco da Paróquia Santa Clara de Assis

Data: 16/02/2022

Edição: 81

O que levou o senhor a optar pelo sacerdócio?

 

Então, domingo teve a leitura de Jeremias, né. No passado, quando me perguntavam “o que que te levou a isso”, eu tentava explicar. Depois descobri que não tem explicação, não é. Então é uma pergunta que você não tem resposta, porque a resposta nasce da alma, ou seja, você não escolhe ser sacerdote, você é escolhido.  Eu sempre falo da delicadeza de Deus em chamar a gente para alguma coisa, então Ele percebe que naquela parte da história, aquela pessoa vai ser chamada para, justamente, exercer aquela vocação, que não é maior nem menor que as outras é uma vocação. Mas, por exemplo, antes de ser Padre, sou professor, então, já fazendo Seminário, escolhi fazer Magistério, justamente por isso, porque gostava de dar aula. E, justamente fazendo segundo grau lá em Caratinga, porque fui religioso primeiro. A primeira vez que entrei em sala de aula, acho que foi em 1986, eu estudava pela manhã e fui substituir uma professora a tarde, então, a vocação sacerdotal ela vai se moldando. E mesmo que a minha mãe não tenha consciência disso, eu acho, acho não, tenho certeza, minha mãe foi muito importante, por quê? Outro dia voltei lá na Igreja São José, porque como nasci em Santa Efigênia, as coisas se resolviam no centro, né. E minha mãe ia para a Igreja São José e rezava ali. Entrando na Igreja, à direita, tem uma gruta, uma capelinha que tem o Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora das Dores. Eu era muito criança, então ficava pendurado na grade enquanto minha mãe rezava. Aí eu falo, a minha história de vocação tem a ver com a Igreja São José, porque ali minha mãe rezava e eu estava ali. Mas quando surgiu? Surgiu quando Deus quis me chamar e eu não sei o momento exato. Eu sei datas assim, que visitei os Carmelitas Descalços, no João Pinheiro, quando entrei para o Seminário. Fiz agora, dia primeiro de fevereiro, 37 anos que entrei no Seminário, essa data guardei! No dia primeiro de fevereiro, às oito ou oito e meia da manhã, saí de Belo Horizonte, no ônibus da Presidente e cheguei em Caratinga às três, três e pouco da tarde, dia primeiro de fevereiro, exatamente há 37 anos. Ou seja, esta semana, estou celebrando a minha primeira semana de entrada no Seminário e, naquele tempo, como eu tinha lido a história de Santa Terezinha, Santa Tereza de Jesus, os santos no passado escreviam no diário e eu justamente escrevi um diário: Hoje cheguei para o Seminário... e no dia dois, exatamente foi muito interessante. Eu era um menino magrinho, baixinho e me impressionou muito o tamanho do Seminário, e tem lá na minha agenda escrito: Hoje é o primeiro dia que passo no Seminário.... E olha que interessante, outro dia falei isso com um amigo Frade, e coloquei assim: estou muito feliz de estar aqui... eu tinha 17 anos.... Estou muito feliz de estar aqui e não é só algo de momento é algo que eu quero para a minha vida. Escrevi isso aos 17 anos. Meu Deus do Céu, que loucura! Um menino, com 17 anos ter essa consciência. Uai é Deus! Por isso que falo do Jeremias, porque Jeremias fala: “antes de te formar no ventre da tua mãe eu te consagrei”, então eu respondo sempre citando Jeremias. Que você é gerado para isso e não é um mérito nosso, naturalmente. As outras coisas que vêm depois são adendos, anexos à sua vocação. Um cargo aqui, um cargo ali e a pureza da vocação é ser Padre. Os outros títulos são títulos, né!?

 

O senhor escolheu a passagem “Vós sois o sal da terra; (...) vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) como Lema Sacerdotal e tem dedicado sua vida ao anúncio do Evangelho, abrindo-se à graça de Deus, para servi-lo. Que paralelo o senhor faria entre a vivência do seu ministério e a vida da Irmã Benigna? 

 

Então, primeiro, quero dizer que eu era um menino de uns doze, treze anos quando fui numa missa, em uma Igreja enorme lá em Contagem. Eu fui pároco, depois, nessa Igreja. Fui com minha irmã à missa e era um domingo, talvez nove ou dez horas e era justamente esse evangelho. E eu fiquei imaginando, por que o evangelho continua: “não se acende uma lâmpada e põe debaixo de uma vasilha...”. E isso me marcou naquele dia, aquele evangelho. Nunca mais vi esse evangelho! Assim, eu prestei atenção e claro já ouvi várias vezes, mas não prestei atenção. Quando fui ser ordenado diácono, que foi no dia 2 de dezembro de 1984, aí falei: eu vou colocar essa passagem, mas não sei porque essa passagem voltou. E justamente essa passagem tem a ver quando Jesus fala: “Vós sois o sal da terra" - o novo sabor; "Vós sois a luz do mundo.” - tem que iluminar! O quê que eu penso? Como que surge para mim a ideia de fazer acontecer isso na minha vida, na vocação? E falo que não foi escolha minha também, porque Deus só me deu abacaxi. Todas as paróquias que passei estavam com alguma dificuldade. Então, tive que brilhar como a luz do mundo, ou seja, dar uma nova luz naquelas paróquias e, ao mesmo tempo, dar um sabor novo. Então foi sempre um desafio, nunca foi fácil, sempre foi um desafio. O que percebo também que foi o que Irmã Benigna viveu. Aliás, percebo assim, talvez Irmã Benigna também tivesse essa consciência. Como que você percebe que aquele chamado tem consistência? Não é pelo hábito que usa, não é pela consagração que você fez. É pelo desafio que você vai enfrentar e como você vai fazer aquele desafio se tornar então uma glória. Então, o quê que eu penso? Percebendo, um pouco, não sei tanto da vida da Irmã Benigna, toda busca, toda luta, os lugares onde ela passou... ela sempre teve que chegar com um sabor novo. E diamantinense, como ela era... Brinco sempre que o diamantinense está sempre além do pensamento da sociedade. Brinco sempre assim, quem nasce em Diamantina tem outro pensamento. E percebo que, quem nasce em Diamantina é serelepe, não fica quieto. A minha mãe é de Diamantina, então tenho o sangue diamantinense também. Então, percebo isso, que a Irmã Benigna não ficava quieta. Por quê? Porque ela sentia também necessidade de dar um novo sabor aonde ela estava. Como eu disse, não basta ser vocacionado, não basta ser consagrado, é preciso colocar na prática.  E aí, quando você dá um novo sabor, a luz brilha. E não é só a luz, porque Jesus Cristo fala, ali no versículo 16, depois dessa citação ele fala: “brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vendo as vossas boas obras, glorifiquem ao Pai que está no céu.” Então, com certeza nós a veneramos, não por ela, mas pela luz que ela fazia brilhar, para que nós descobríssemos sempre a glória de Deus. Isso é o sacerdócio! É necessário que eu diminua para que Ele apareça. Essa é a vocação. E como é que eu percebo? Eu percebo que a minha vocação tem consistência, porque nunca foi fácil. Se tivesse sido muito fácil eu estaria meio preocupado.

 

Em sua homilia na Missa da Irmã Benigna, em 16/06/21 – uma das homilias mais bonitas que as pessoas já ouviram – o senhor fala da importância da confiança em Deus, da vocação e a busca da santidade. Como o senhor vê o papel do religioso na sociedade e como ele pode contribuir para a vida das pessoas? 

 

Então, me permita citar aqui o Papa Francisco, que tem nos ajudado a perceber o seguinte: a vida do consagrado, inclusive nós celebramos, no dia dois de fevereiro, sempre se celebra o dia do consagrado, Nossa Senhora da Luz, que também se pensa no consagrado. Então, a ideia é a seguinte: o Papa Francisco tem nos ajudado a pensar justamente na Igreja em Saída, na Igreja que está no mundo, então, o papel do religioso não é atrair para si e muito menos ficar fechado em si. Eu não vou desmerecer, naturalmente, os religiosos e religiosas que vivem no Convento e, sobretudo, aqueles que são consagrados na vida contemplativa, mas mesmo esses são chamados a sair de si. E sair de si significa ir até o outro. É aquilo que o Papa Francisco nos chama: uma Igreja em Saída. Mas não é uma Igreja em saída só para a rua, é uma consagração que sai de si, por isso que São Pedro, nos Atos dos Apóstolos, fala: “vocês sabem o que aconteceu com Jesus Cristo, ele passou por toda parte fazendo o bem.” Em latim a gente fala: "pertransivit et benefaciendo..." Passando fazendo o bem. Então é onde você está, porque a consagração não é vivida no altar. A consagração não é vivida na Capela, a consagração é vivida na vida e aí é um grande desafio.  Eu acho que a beleza da vida religiosa em si, da consagração é você ter a consciência que você é humano, tem as suas dificuldades, mas mesmo assim você precisa mostrar ao outro que, como o outro que está no mundo, digamos assim, você também faz o esforço para a busca de santidade. Então você não tem um mérito maior, você tem uma busca, a partir da sua consagração, de ser realmente alguém que passa fazendo o bem e passa fazendo o bem procurando fazer bem todas as coisas e, sobretudo, por primeiro a sua convivência. E aí há algo interessante, porque a frase, o pensamento, a exortação do Papa Francisco quando ele fala de uma Igreja em Saída é uma das exortações mais exigentes para nós da vida religiosa. Por quê? Porque você não pode sair de você e ir até o outro se você não tem nada a oferecer e para ter alguma coisa para oferecer, você precisa ter e trazer a experiência de Deus, na simplicidade da vida. Não são palavras bonitas, não são hábitos bonitos, vestes litúrgicas bonitas, Igrejas e altares bonitos, não. Não! É aquilo que eu falava outro dia na missa de Nossa Senhora, da Apresentação do Menino Jesus e a purificação de Nossa Senhora. Ela leva o Menino ao Templo e o Menino se torna o Templo, porque Jesus se torna o Templo, o Sacerdote e a Oferenda. Então, nós somos assim também. Nós, reconhecendo nossas limitações, mostramos para o outro que nós também o carregamos e queremos levá-lo até outro. Por isso a gente quando chega precisa irradiar, irradiar Jesus Cristo. E eu digo assim: é preciso ser encantado com Deus, mesmo nas peripécias da vida e mesmo nas provações que Deus coloca na nossa vida, como nós sabemos muito bem que colocou na vida de Irmã Benigna. Colocou, por quê? Deus não queria a santidade dela? Deus não a havia escolhido? Deus não gostava dela? Não! Ao contrário, absolutamente. Colocou, porque Ele sabia que, através de tudo aquilo que Irmã Benigna passava e passou, ela se santificaria. Agora, aí há uma ponte muito tênue entre perceber que as provações são para santificação e não levar em consideração as provações e reclamar de Deus. Então o equilíbrio da santidade talvez esteja aí, e é tênue. É tênue eu perceber que tudo isso que estou passando é para santificação e não porque Deus não gosta de mim. Aí que está o ponto principal da santidade. A gente começa a perceber que há um caminho de santidade quando a gente começa a perceber - e é muito difícil isso, talvez -  perceber que através disso a gente pode se santificar. E isso é uma santificação para a vida. E se sua vida é uma santificação, você, naturalmente, vai ajudar o outro a perceber que vai se santificar. Eu creio que é por aí. 

 

Na percepção do senhor, qual o significado da caminhada de vida e santidade da Irmã Benigna para a vida consagrada e o Clero – a Igreja, no Brasil e no mundo? 

 

Então, veja que interessante. Eu acho muito legal quando a gente percebe que uma pessoa se santifica na vida, por ser humana. Os anjos não são santos, são anjos. O ser humano é o único ser criado por Deus capaz de se tornar santo, já pensaram nisso? Somos os únicos seres criados por Deus, capazes de nos tornarmos santos. Deus criou o mundo e o mundo é belíssimo. Mas, a árvore não se santifica, o passarinho não se santifica, a cobra não se santifica, o gato não se santifica. Por quê? Porque para a santificação você precisa dar um novo sentido à vida. Então qual a importância da Irmã Benigna como um espelho dessa santificação? É porque ela mesma não se promoveu na vida de santidade, para ser santa. Ela quis ser santa! Então ser santo não é uma promoção. Ser santo é uma opção, quando você opta por Jesus Cristo, querendo ser humano. Então, eu diria assim, que exemplo bonito, não só para mim, que sou Padre, não só para as irmãs da Congregação a qual ela pertencia, não só para a Igreja, mas para todos nós. O Dom Gil, outro dia, falava que – uma coisa bonita que Dom Gil falou – se a vida religiosa tem um significado, até os ateus admiram os religiosos. Por quê? Porque eles percebem como aquela pessoa é capaz de sair de si mesma, numa vida normal e doar-se em prol do outro. Doar-se a partir de um chamado de alguém que é Deus, né!? De alguém que não se vê e mesmo assim você se entrega e se entrega. Se internaliza com este ser e se externaliza para os seres. E aí, a gente descobre que a santificação é essa via de mão dupla. É você internalizar a santidade, mas ao mesmo tempo você externar essa santidade na sociedade. Foi o que Irmã Benigna fez. Portanto, o convite à santidade que ela nos faz é justamente esse: seja santo sendo gente, sendo humano e, simplesmente, desejando fazer o bem na confiança e na coragem, por que o santo precisa ser confiante em Deus e precisa ter coragem. Coragem de avançar para águas mais profundas. E aí, a santidade de Irmã Benigna eu percebo assim. Foi alguém que teve a coragem na própria vida, na realidade de convento, na realidade pastoral missionária que ela exercia. Teve coragem de avançar para águas mais profundas. Talvez seja esse um dos grandes convites que Irmã Benigna, nos faz: ter confiança em Deus e avançarmos para águas mais profundas. 

 

Para o senhor, qual a importância do legado da Irmã Benigna para a humanidade? 

 

Então, para a humanidade percebo que é o legado da entrega. Não é só confiança e doar-se, mas, é a entrega. A humanidade precisa perceber que essa entrega é uma entrega, que há uma grande alegria. E você pode perceber que várias são as fotos e imagens de Irmã Benigna que ela está sorrindo. Quem se entrega com alegria, se entrega vivendo a alegria da vida e do amor, de ser de Deus. E o grande legado para a humanidade em geral, eu diria, é perceber que, como essa mulher foi capaz de ser chamada a dar a resposta e colocar-se a serviço, entregar-se e, justamente, santificar-se. Então a santificação não foi para ela algo muito fácil, foi um caminho, por isso a santificação nossa precisa ser um caminho. Jesus também, Ele estava no Templo, foi falando as verdades, aí o pessoal leva Jesus no alto de um monte onde estava construída a cidade, Ele passa por eles e diz o Evangelista: “seguindo o seu caminho.” E qual era o caminho de Jesus? O caminho de Jesus era chegar até a Cruz para nos salvar e, depois, ressuscitar e trazer vida nova. Qual o nosso caminho? Nosso caminho é conduzir a humanidade para isso. Acho que a humanidade seria muito mais feliz se ela percebesse que é possível ser de Deus, é possível ser humano e é possível levar o outro a conhecer o mistério desse encontro, o mistério dessa realidade, vivendo humanamente nessa realidade. Ninguém precisa deixar de ser humano para ser de Deus e para se entregar, aliás, se a pessoa não se humaniza ela não se santifica, então precisa perceber isso. A humanidade precisa ser humana. Lembro uma vez, eu vi numa agenda pequeninha que eu comprei - até nas Paulinas - e dizia uma frase: “Senhor, conceda-me estar vivo na hora da minha morte.” Mas vivo em Deus, conceda-me estar vivo. Conceda-me ser humano para ser santo. Eu acho que é isso aí.

 

Poderia dirigir um conselho aos amigos e devotos e também àqueles que ainda não conhecem a devoção à Irmã Benigna? 

 

Então, eu por primeiro diria assim: nós que somos amigos de Irmã Benigna rezemos. Rezemos e procuremos imitá-la na simplicidade, na tranquilidade da vida. Ninguém deve santificar querendo correr muito. Ouvi uma música uma vez em relação a São Francisco: “faça poucas coisas, mas as faça bem.” Se a gente tiver de deixar um legado também da nossa vida para outras pessoas, é procurar fazer pouco, mas fazer bem. É ser feliz e fazer o outro feliz, e buscar a santidade com muita tranquilidade. Sem muita euforia. Eu acho interessante o fato da Irmã Benigna incentivar a oração da Salve Rainha. Eu sempre falo com as pessoas, quando eu dou o santinho: "ela só falava para rezar uma Salve Rainha e fazer o bem", então o que eu diria para nós? Vamos perceber que é possível, também nós, buscarmos a santidade, assim como ela também encontrou e vamos perceber que no outro também existe a santidade. Porque, na verdade, seria muito interessante que nós também começássemos a perceber no outro a santidade, com bravura. Sejamos intrépidos anunciadores da Palavra, porque, na verdade, a nossa vida é isso:  a gente só se santifica quando a gente se encontra com a Palavra e a Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós. Então, Jesus é a Palavra. Então ter como ponto principal a Palavra de Deus. É a Palavra de Deus que tem que nos mover para evangelização, nos mover para a vivência, como o Santo Padre Papa Francisco tem nos chamado a fazer e viver a nossa sinodalidade. Viver a consciência de que somos irmãos fratelli tutti  e vivermos a  consciência de que o mundo é a Casa Comum e, se o mundo é a Casa Comum, eu quero que o mundo seja bom pra todos. O que Irmã Benigna fazia nas ações sociais? Ela queria fazer com que o outro se sentisse bem. Por isso que ela ia pra lá, ia pra cá e lutava. Talvez até com a incompreensão de algumas das irmãs do convento, natural. Irmã Dulce também passou por isso, Madre Teresa de Calcutá, e, aliás, acho que o caminho dela é aí. Será uma grande santa reconhecida no futuro, como essas outras que citei, por que lutaram pra que a humanidade percebesse que há alguém do lado, que passa mais necessidade que nós, por que o santo não pode ser santo só para si. Para ir pro altar, ele tem que ser uma pessoa que percebe o outro do lado e nós precisamos ter uma visão para a frente em Deus, mas uma visão aberta para quem está do nosso lado e percebermos que é ali naquele que Jesus está - "quem acolhe meu irmão, a mim acolhe". Então eu acho que o legado de Irmã Benigna é um legado de uma samaritana. Viu, teve compaixão e cuidou de todos que se aproximaram dela. Eu diria uma samaritana. Então, nós temos também que sermos samaritanos na nossa vida. Vermos, termos compaixão e cuidarmos. E olha que interessante: o samaritano entrega o homem na hospedaria e fala: “cuida dele!  O que você gastar a mais, quando eu chegar eu te pago.” É isso. Para dizer: se você se desgastar a mais com ele, eu vou te pagar esse desgaste, porque para mim não é muito desgastar-me com meu irmão, minha irmã. Para mim isso é um modelo bonito que Irmã Benigna deixa para nós. E um conselho que eu deixo é não deixar de ter no bolso, na carteira, o santinho da Irmã Benigna e não deixar de proclamar a devoção. Eu sempre falo com a pessoa: "tem Irmã Benigna"! Sobretudo para as pessoas que estão doentes ou fazendo tratamento falo: "tem Irmã Benigna". Então, proclamando a devoção a ela, nós também estamos entregando à pessoa a esperança na cura, no alívio da enfermidade e no alívio das coisas também, então é isso. Eu acho que Irmã Benigna é um caminho bonito, moderno pra nós, por que é do nosso tempo, é uma santa nossa e acho que Minas, acho não, tenho certeza, Minas terá no futuro, no altar, uma grande figura como modelo para toda Minas Gerais e para o Brasil. Eu diria que Irmã Benigna equivale para nós em Minas o que Irmã Dulce equivale para os baianos e como Irmã Dulce é a Dulce dos Pobres, Irmã Benigna será para nós a Irmã da Saúde. Então, eu acho que esse é o grande legado e sou muito feliz de ter descoberto também na minha vida. Não conhecia essa devoção. Naturalmente, fiquei um tempo fora de Belo Horizonte também, fora do Brasil, mas quando eu começo a conhecer a devoção à Irmã Benigna, inclusive, é interessante. Eu comecei a conhecer mais quando cheguei de Roma, porque trabalhei numa paróquia em Contagem e alguém me pediu, no final da missa, se eu podia deixar entregar o jornalzinho e foi ali que eu peguei. Mas era muita gente que no final da missa pegava, então acho que um dia eu peguei o Jornal e fui ler alguma coisa. Na verdade, eu não conhecia antes. Claro, eu sei falar da Irmã Benigna, mas a partir dali - por isso é tão importante o anúncio, a divulgação - porque foi a partir dali.

 

Como/quando o senhor conheceu a devoção? O que mudou em sua vida? 

 

E o mais interessante, eu conheci e não sei como chegou até mim uma foto da Irmã Benigna com uma oração atrás, e a história, e passei para minha mãe, que tem até hoje. Não sei como chegou à minha mão esta foto e passei para minha mãe. E a minha mãe tem uma forma de dizer, uma forma mineira e diamantinense de dizer que ela fala assim: “as minhas santinhas.” Então ela chama a Irmã Benigna de “a minha santinha”. Ela fala: “Eu rezei para as minhas santinhas”. E, inclusive, fica no corredor, ela tem um lugar que ela põe até contas de água, luz telefone, etc. E ela fixou ali no corredor a Irmã Benigna. Então foi a introdução da Irmã Benigna na minha família, foi a partir desse conhecimento que eu tive. Inclusive não aprofundei, não tinha nem tempo, estava estudando doutorado. Nesta época, eu cheguei para o Brasil, mas fazendo doutorado em Roma. Fazia ponte aérea BH / ROMA e Tribunal Eclesiástico. Depois tantas outras coisas, pastoral familiar, mas então não tive tempo de aprofundar. Não sou um grande conhecedor não, e aí eu levei para casa e depois falei com minha mãe que ela era de Diamantina. E talvez isso fez dar uma afinidade, porque nós somos conterrâneos, então ser conterrâneo de uma santa não é para qualquer um também, né? Então, parece que isso causa mais afinidade e depois as experiências que eu fui tendo, sobretudo a seguinte: Minha mãe está com 82 anos e todas as vezes que minha mãe tem alguma enfermidade, "a santinha" - como ela diz - “Para quem eu entrego a intercessão é Irmã Benigna.” Eu tenho muita devoção a Nossa Senhora, passei por várias paróquias de Nossa Senhora, graças a Deus, mas quando fala assim: minha mãe vai fazer um exame, eu ponho Irmã Benigna à frente e ainda brinco e falo com ela assim: "cuida dela porque ela é conterrânea da senhora". Eu falo assim com muita proximidade e eu tenho “prometido” que não deixarei mais de anunciar a devoção `a Irmã Benigna, que realmente, para mim, tem sido uma graça e, aqui na paróquia, eu tenho feito muito isso e tenho testemunho. Outro dia, o moço falou comigo: “O senhor me deu o santinho e tal. Eu rezei e pedi para ela e consegui tal coisa.” Assim.

 

O senhor, particularmente, conseguiu alguma graça? 

 

Ah, tenho conseguido várias graças pequenas, porque também não posso passar à frente de outras pessoas que têm graças maiores e necessárias. Agora, sempre tenho pedido muito a saúde, porque eu tive Covid, então a gente enfraquece um pouco, baixa de imunidade. Sobretudo eu peço a ela a graça da saúde para conseguir continuar, claro, com minha missão de padre, porque preciso ter saúde e ter muita paz, porque a gente precisa evangelizar. Eu saio muito, viajo muito, trabalho com pastoral dos casais - o ECC, então pego muita estrada. Essas duas últimas semanas eu fui pra Divinópolis, Sete Lagoas. Vou para Diamantina inclusive, para falar com os padres sobre o ECC. Então sempre peço isso, mas eu fico brincando, eu não quero pesar muito com ela não, porque sei que tem outras pessoas precisando mais de graça, e tem uma graça que eu tenho conversado com ela, mas a gente bate um papo mais de leve. Às vezes, se eu alcançar essa graça, ela pode ter certeza que será muito mais proclamada através da devoção que eu vou implantar dela, cada vez mais. Eu falo assim, é bom quando você não vê o santo como apenas o intercessor. Rezou, recebeu e pronto. O santo, sobretudo para mim e tenho visto muito com a devoção à Irmã Benigna, tem que ser um amigo, que te ajuda a se aproximar mais de Deus.  À parte as graças que a gente alcança por intercessão do santo, da santa, do beato, do servo de Deus. A gente precisa, através do santo, receber essa graça, sobretudo, da fé, da perseverança, uma graça muito importante: a graça, a caridade. O mundo está precisando, mais do que cura do coronavírus, é a cura da caridade, porque a nossa caridade é que está um pouco mais enferma. Então eu peço muito isso também, que eu consiga fazer bem o meu trabalho, claro, tendo saúde para dar conta do recado, e eu tenho percebido que ela tem me ouvido. Agora, tem graças grandes que a gente pede, aí pesa mais para o santo, então eles pedem para esperar um pouco. 

 

Considerações finais do Padre Jorge: 

 

Então, primeiramente, eu queria agradecer à Amaiben que é a Associação que, vamos dizer, faz a cura, no sentido de faz a devoção se espalhar. A palavra cura está no sentido mais francês, a cura da coisa. Então que espalhe a devoção e que não é só espalhar a  devoção, é fazer as pessoas conhecerem, realmente, quem é Irmã Benigna, porque quando a Igreja dá a possibilidade de alguém ir para o altar, dá a possibilidade, sobretudo, da pessoa ser exemplo. Então que queria agradecer por toda a missão que vocês desempenham com muito carinho, com muita devoção, com muita simplicidade e tem que ser assim, porque a vida de santidade tem que ser com simplicidade também. Agradecer a amizade que surge, porque diríamos que a Irmã Benigna também é a santinha da fraternidade. Que através da devoção dela tantas pessoas se unem. E dizer que estou muito feliz de poder, de ter conhecido a devoção, de poder espalhar a devoção e ter sido escolhido também para, com muita tranquilidade, falar para vocês um pouquinho daquilo que ela significou e significa para mim e compartilhar com quem está nos assistindo, vai ficar aí por um bom tempo nas redes sociais essa nossa conversa. E que Deus possa, através de cada um de nós que anuncia a devoção a Irmã Benigna, fazer com que mais pessoas alcancem graças e também confiem na intercessão dela, pra que ela possa assim chegar às glorias do Altar, que é o grande desejo nosso e, com certeza, claro a gente sabe que é o grande desejo do nosso Arcebispo e Presidente da CNBB, Dom Walmor, que também, eu percebo, tem muito amor e carinho com a Irmã Benigna e, inclusive, está sempre por ali no Memorial dela. Porque a gente percebe que Dom Walmor tem muito carinho e isso é muito bonito, um Pastor com tantas ocupações e responsabilidades, mas com tanta simplicidade, também demonstra esse carinho, essa beleza dessa unidade com a Irmã Benigna. Então agradeço. Desejo muitas felicidades, saúde, paz perseverança na fé, porque o que faz a graça vir até nós é a confiança, a perseverança na fé, e aprender sempre a colocar-se nas mãos de Deus. Ao final, o que ela fez e que os santos todos fizeram? Aprendeu a colocar a própria vida nas mãos de Deus. É um legado para nós. 

 

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